Testando o sistema Lutterloh - Uma blusa dos anos 1950

by - junho 28, 2019


Para não divulgar o santo sem contar o milagre, eu fiz o teste do sistema Lutterloh!

Caso você não tenha lido aqui, eu recentemente adquiri  um sistema de modelagem antigo, desenvolvido para traçar moldes utilizando uma escala adaptável às medidas variáveis de busto e quadril, chamado Lutterloh ou Corte de Ouro ou............e por aí vai!

Para testar a eficácia do sistema, escolhi um modelo simples e que não demandasse muito material ou tempo, caso eu errasse. Dentre os mais de 300 figurinos, o modelo escolhido foi uma blusa de verão do livro de 1954.

As duas são a mesma blusa, mas a rosa na verdade é um vestido.
O que me atraiu mais no modelo foram estes "V"s na linha de decote e os ombros afastados com manguinhas japonesas. O molde então só teria frente e costas, pois elas são inseridas junto ao "corpinho". As mangas japonesas foram muito populares nos anos 1950, representando uma grande mudança em relação aos anos 1940, quando as mangas chegava quase ao cotovelo ou eram muito bufantes. 

A iniciativa também é aumentar meu guarda-roupa inspiradamente vintage,  a partir de reproduções  de moldes e receitas históricas (a minha 1a tentativa está aqui). Tenho algumas peças originais sim: mais acessórios, mas roupas são poucas. Quando quero compôr um cosplay chá da tarde completo, recorro a improvisos com roupas de outras décadas...e isso está ficando cansativo porque nem sempre fica parecido. E atualmente desejo montar um guarda-roupa mais baseado em pesquisa histórica e  represente a estética do período. 

E que dê para ir trabalhar sem parecer fantasiada 😵😵

O tecido

A ideia era usar um tecido com estampa semelhante ao do figurino do Lutterloh. Ele parece abstrato, mas também floral, então fui pesquisar  os catálogos de tecidos da década. A única restrição seria o tecido ter um tom bem pastel com algo vermelho ou rosa, para combinar com uma peça que fiz recentemente: uma interpretação livre de uma saia vermelha de 1953 ♥  Optei pelo floral com flores não muito grandes (afinal, não queremos uma toalha de mesa, taokey? 😈 ).

Uma das muitas pranchas de amostras que pesquisei (essa é de 1958).
O tamanho das flores e as cores batem com o que eu desejava e com o Lutterloh. Fonte: Vintage Dancer 
O tecido é 100% algodão, que era bem comum nos anos 1950 sobretudo para manter a firmeza das armações das saias.

Quando dá, sempre opto por fibras naturais e próximas ao sugerido no modelo, por causa do caimento e do fator "historicamente correto" (a questão do poliéster...). Tenho dúvidas se a textura/gramatura atual é próxima daquelas comuns na época, o que só saberei quando tocar um vestido vintage real do Brasil. Mas aí também já é ir fundo demais na nerdice. Pra ir para o escritório não precisa!

Os botões são antigos, de uma caixa que comprei em um antiquário no Rio de Janeiro com botões de diversas épocas. 

Só.

Traçando o molde 

Eu tracei sem fotografar porque já era noite, por isso as fotos não são as melhores. Basicamente,  fiz o molde como indica esta figura de uma versão em alemão dos anos 1930. Ao final, adicionei de costura de 1 cm em tudo.

Escala do sistema Lutterloh
Um passo a passo de como usar a régua, de uma cópia dos anos 1930.
Fonte: Pinterest (não creditada).
Repare que a miniatura só tem frente e costas. Cadê o revel? Vai costurar direto?  Tá aí a pegadinha do Lutterloh: ele é feito para quem já tem alguma experiência para perceber que falta alguma coisa e arranjar soluções.

Caso contrário: tem que adivinhar 😂😂

Costurando e finalizando

Bom, a costura foi feita sem muitos mistérios. Fiz a pence, juntei frente e costas e cortei um revel espelhado na linha da gola (adivinhações!). 

A cintura foi tranquilíssima para ajustar: apesar do método não pedir esta medida, ajustei no corpo usando as quatro pences (as duas retas frontais e as duas curvas traseiras) e deu certinho.

Em relação ao acabamento das costuras, eu finalizei com tesoura de picotar por preguiça por motivos de costura histórica. Poderia ter feito com zigzag também, mas esqueci de falar que eu estava com uma pressa doida de ver o resultado final e queria economizar tempo.

Tecido de algodão
Um detalhezinho do tecido e dos botões :)

Balanço final: erros e acertos

Não sei se você reparou, mas a linha de gola do desenho é mais baixa e os ombros são mais afastados. Mas o molde real não ficou assim. (!). A minha blusa ficou com o decote mais alto e os ombros mais próximos.

Eu cortei errado? Não.

O ERRO FOI: não ter feito uma peça-piloto antes! Se eu tivesse feito, abaixaria a linha de decote e afastaria um pouco os ombros, mas a pressa de querer o resultado logo, sabe como é hehehe. SEMPRE FAÇA A PEÇA-PILOTO! Porque pensa: uma coisa é o ilustrador da peça e a outra é o modelista. É impossível um sistema genérico de modelagem refletir exatamente o modelo em 100% das vezes e das medidas. Tem uma margenzinha de erro, de correção a fazer sempre.

Mas assim, é uma coisa de 1 cm e pouco e tem que olhar muito pra perceber. Imagino que para quem tem mais busto, o modelo funcione melhor!



Outra dificuldade foi acertar a costura dos 'V's laterais. Não consegui fechar a pontinha deles, porque a margem de costura não alcança essa parte e pode desfiar. Apliquei um pouco de entretela para sanar o problema, mas preciso pensar numa outra alternativa. Por isso, as instruções ausentes no método são importantes!

Mas entendo não tê-las: como fazer isso para 300 figurinos? Em termo de custos, é impossível. O livro ficaria inacessível já naquela época.

OS ACERTOS: todos, mesmos os erros. Gostei e quero fazer mais uma porque achei muito linda, mas retraçando a linha do decote uns 2 cm mais baixa no molde de papel. 

Fora este pequeno contratempo, aprendi para caramba sem tutorial, apenas seguindo a intuição e algumas dicas do Livro de Costura da Singer. Penso que hoje a gente ficou muito dependente de vídeo de youtube, de alguém ensinando quase fazendo a peça inteira, e deixou de apostar nos nossos próprios conhecimentos e na tentativa de criar soluções. Fazer esta blusa foi um ótimo exercício :) 

Gostei também do resultado porque ela assentou bem na cintura e no busto, o que era o meu medo pelo fato de ter o busto pequeno e, de repente, tudo ficar muito largo e demandar muitas alterações (o santo ajudou :) ).

Já estou usando misturada com meu guarda-roupa do dia-a-dia (com jeans e por fora da calça) e quando saio de casa mais anos 1950 (com saia e por dentro, cabelinho feito e tals).

NOTA FINAL: Lutterloh aprovado!!! 
(essa versão de 1954, né? Porque as de 1930 e 1940 parecem tão complicadas que estremeço só de olhar HAHAHA)


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14 comentários

  1. Oi,estou adorando as suas postagens,fico cada vez mais com vontade de fazer peças com inspiração vintage para mim kk.Só fiquei com uma dúvida,o método Lutterloth/Agulha de ouro é o mesmo do que os livros de modelagem antigos da Singer ? Pois tenho um exemplar da década de 40 que me intriga justamente pelo método de modelagem.

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    1. Metamorfose, que bom que você tá pensando nisso porque então podemos fazer uns encontrinhos temáticos dos anos 1940 e 1950 :D então, dei uma pesquisada aqui e achei o livro que você está falando. Eu não folheei, por isso não sei se funciona com réguas. O que posso te responder é que Singer e Lutterloh são empresas diferentes, e quase 100% de certeza que o método é diferente :)

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  2. Parabéns, ficou linda!
    E fiquei curiosa em ver a saia. Pode mostrar?

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    1. Obrigada!!! Eu quero fotografá-la no corpo, mas como comprei tecido para fazer um casaquinho acompanhando, acabei não tirando foto. Mas pretendo publicá-la aqui ou no Instagram sim!!!

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  3. Adorei a blusa, ficou linda! Eu voltei a costurar agora, também sempre fui muito apegada a YouTube mas dessa vez estou tentando pelos meus conhecimentos mesmo (na realidade estou me baseando em uma outra peça, mais atual, prá fazer uma mais vintage, ou seja, a peça piloto aqui é fundamental!), espero alcançar meu objetivo! Amando seus posts!

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    1. Débora, muito obrigada! Que bom que você retomou os prazeres da costura!! Olha, peça piloto é fundamental! Não é bom cortar e retornar o tecido sem ajustar antes, tem o risco de perder. E quando se corta já tendo experimentado, é só sucesso! Boas costuras!!!

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  4. Vc podia mostrar ela no seu corpo. Fiquei curiosa no manequim ficou perfeita.

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    1. Suzana, comi bola de não ter tirado, mas quando possível vou adicionar esta foto sim!

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  5. Adoro o seu projeto, acho inspirador, tanto que já encomendei o Livro de Costura Singer de um sebo. Muito interessante esta busca pela fidelidade na reprodução dos modelos, utilizando inclusive somente aviamentos que estavam disponíveis na época. Outro dia, assistindo a um vídeo da Marlene Mukai, ela comentou que no Brasil não existe mais a venda o viés de organdi, muito utilizado para acabamentos nas costuras do avesso, numa época em que não era tão popular e acessível a overloque. Mais uma vez, parabéns e obrigada por nos agraciar com o teu trabalho que é fantástico.

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    1. Olá, Josefina!
      Aqui o livro da Singer é de cabeceira.

      A Marlene realmente está certa. Aliás, nada de organdi se encontra no Brasil. E pra mim isso é chato, porque há várias roupas dos anos 1930 que utilizavam este material, e eu gostaria de tentar reproduzir, mas não há a possibilidade.....

      Muito obrigada pelo comentário!

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  6. Oiee..me encantei pelo teus trabalhos como faço para adquirir este metodo tambem sou apaixonada por Moda

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    1. Olá, Vania!
      Procure pelo método "O Corte De Ouro" que é a versão mais atualizada e em português do método.

      Bjs

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  7. Que linda..como faço para adquirir este metodo?

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  8. Parabéns pela iniciativa e dedicação!!!
    O resultado ficou maravilhoso!!!
    Sempre quis ver uma peça confeccionada por esse método!!!
    Arrasou!!!
    ❤️❤️❤️❤️

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