Projeto finalizado - Vestido de verão de 1954, com molde Lutterloh

by - agosto 20, 2020


Meu primeiro vestido da quarentena.

Sobre quarentenas, fins e recomeços

No começo da quarentena em São Paulo, em março de 2020, estava todo mundo aflito, com medo, com raiva, confuso, ansioso e fazendo panelaço toda noite. Comigo não foi diferente. E o que era para durar 2 semanas (kkkkkkkkkkk) já não tinha previsão pra acabar. 

Este era para ser o meu ano sabático: eu ia estudar algo diferente e viajar, depois de 5 anos de rotina repetitiva e sem graça. 

O primeiro impacto foi a interrupção do curso caro e mais avançado de Modelagem sob Medida que estava fazendo...tão planejado e sonhado...e com foco em interpretação de modelos e correções. A solução dada foi abrir às pressas um grupo de Whatsapp para manter a turma aquecida até que as aulas voltassem (😐).

Claro que não me adaptei a este modelo...optei por continuar os meus estudos sozinha, com meus livros antigos. Hoje, agosto, vejo que foi o melhor que eu poderia ter feito e que sou capaz de TUDO.

Porém, demorei pra engrenar. Durante 7 semanas fiquei chorando pelo futuro incerto, pelo impacto familiar e com medo de alguém falecer de Covid (o que aconteceu mesmo, com meu tio em julho 😢). Não costurei, não modelei...só terminei três encomendas anteriores com muito esforço mental.. e crochetei um pouco  por causa do "efeito mantra" da repetição dos pontos. Era o único remédio.

Algo que aceitei: eu não tinha obrigação NENHUMA de ser produtiva durante a quarentena. E achei bem deslocados estas matérias que trataram o início dela como férias e oportunidade.  Tinha um vírus pouco conhecido no ar, nada de vacina, o mundo parou numa situação superestranha. Pelo amor de Deus, né?

Aí na 7a semana consegui sair deste vórtice.

Em junho: fingindo que tava tomando altos sóis na piscina interditada 😇

Agora sim: "Um vestido de verão"

Eu havia começado o projeto piloto deste vestido antes da quarentena. Tinha cortado o molde no algodão cru a partir do livro Lutterloh de 1954, mas tive dificuldades para ajustar as costas sozinha, então deixei de lado. Meu cônjuge não tem muito jeito pra me ajudar com isso, então...

...aí resolvi retomar a vida começando por ele.

Na foto abaixo, o vestido é o terceiro.



Aqui registro a minha reserva com o Lutterloh. Cara, eu manjo deste sistema, já usei várias vezes, minha régua é a original, mas é a segunda vez que ele dá problema nas costas. Na primeira, foi uma blusa de 1939 (não publicada aqui) que as costas ficaram 1/3 menorea. E a segunda foi esta que as costas ficaram muito largas. Que dor de cabeça este ajuste!!! Tô ficando chateada com isso.

O fato é que: todo molde tem que ser corrigido. TODO molde de qualquer lugar, de qualquer época! A não ser que você tenha as medidas "padrãozinho" (= manequim 36 ou 38), se prepare pois essa é a parte em que se sua sangue e se transpira gelo 😌😌

Sorte que eu sempre faço a tela: isto previne de mais lágrimas que as necessárias (rsrsrs).

O esqueminha do vestido. 


O modelo é simples e romântico: a frente tem duas pences de cintura longas e não tem mangas: ao invés, são duas alças abotoadas na frente. O abotoamento é nas costas, de cima até embaixo 💓 e a saia é franzida, com uma faixa de amarrar  na cintura.

O abotoamento traseiro é tão raro de se ver! Amei este detalhe!!!

O tecido é um floral rosa de algodão muito bonito e leve. Algo muito 1950s para o propósito do vestido: o Lutterloh define que é um "vestido de verão", ou sun dress. Ou seja, um vestido fresco e leve para passeios na praia ou beira de piscina ou algo assim. Ou seja também: nada de anáguas e estruturas.

Aliás, se reparar, a saia dele não tem roda suficiente para armar (mais um exemplo de como a ilustração pode ser diferente do original). A saia foi cortada com a medida exata do molde, não fiz alteração. Então se não é, não é rsrs

É sempre bom sublinhar este lance da anágua porque subentende-se (ou melhor, entende-se mal) que todo vestido anos 1950 tem anágua, barbatana, cinta.... o que não é uma verdade verdadeira. É mais uma generalização. Vou escrever sobre isso, mas não hoje 😏

Que vestido que você compra que vem uma faixinha combinando?

A única estrutura que me arrisquei a usar foi meu sutiã Bullet Bra de 1964 (foto abaixo). Este vestido foi construído para ele, sério! Porque eu acho isso? Por causa da altura das pences. Elas começam direto no busto, não dão nem uma folguinha e é, claro, isso tinha uma função em 1954, quando quadril e busto largos eram objetos de desejo (ainda são, mas usando outras linguagem).

Porém, tirei todas as fotos com meu sutiã de bojo normal, porque eu não ia pegar elevador de máscara e sutiã pontudo dando na cara dos véios aqui do condomínio 😀😀

A comissão de frente que eu nunca tive.

Apesar de ser um vestido com técnicas simples, sofri pra fazer. Toda hora me perdia nas peças, costurava invertido....umas coisas bobas que nunca fiz (!) Acho que isto tem totalmente a ver com a quarentena e meu estado mental pelo terror mundial. Por isso, quando terminei, aos trancos, foi como se eu tivesse cortado e arrastado uma grande pedra até as Pirâmides do Egito 😂😂 sério. Foi uma vitória comemorada!

No final, achei que ficou lindo!!! E confortável e fresco e fofo. Claro, tem uma falha: uma só na verdade. eu tiraria 1 cm de cada lado do corpo para ficar mais justo, porque aquele problema das costas deixou uma pequena sobrinha. Só isso.

Só isso pra quem tava no vórtice infinito da quarentena.

O toque final eu dei com a colocação dos botões: fiz todos com bordado de flores. Fiz isso porque desde a quarentena até agora, estou sem poder comprar botões diferentes. É bem fácil fazer: se fazem os raminhos em Y e a flor com um nó francês. Combinou muito!

E é historicamente correto: no Livro de Costura Singer de 1957 há algumas sugestões de bordado de botão 💓  Então fechou!

Flores nunca são demais.


Para terminar

Enfim, é isso! Espero que tenha gostado da recriação de um vestido de 1954. Não tem muita gente fazendo isso por estas bandas e tenho paixão por isso! 

Me diz se você gostou nos comentários e, se puder, compartilhe meu texto para mais gente conhecer meu hobby/trabalho 💋💗

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2 comentários

  1. Ficou uma graça! Quero fazer um igual para mim, pensando no desafio de costura histórica da Pauline.
    Eu estava jogando Fallout New Vegas esses dias com o maridão e fiquei encantadíssima com os looks femininos e esse vestido é muito parecido com o do jogo (que foi inspirado nós figurinos dos anos 40-50).

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  2. Boa a observação sobre as roupas costurada não ficarem iguais ao desenho. É como se o desenhista exagerasse um pouco no resultado final. Amei o bordado no botão, nunca tinha visto isso antes, desconhecia totalmente.
    Minha mãe comprou uma máquina de costura e vamos aprender a costurar. Conto que seja a costura uma atividade terapêutica, além de poder me proporcionar uma certa independência para fazer eu mesma ajustes e costuras diversas.
    Seu blog é massa!

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